quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

RENASCE A ESPERANÇA

Teço pacientemente a malha
rosea como as manhãs de Primavera.
Cai a tarde e está frio.
Em cada malha construo,
no renascer do amor
um novo mundo ainda fugidio.
Nos Outlets todos se amontoam
num último suspiro
do consumismo habitual.
O presente que cala a consciência
um brinquedo, um sorriso de Natal,
sem termos a consciência
que o mundo já mudou
e na nossa vida ficou
com o pouco que temos
um coração para se dar,
mãos que tecem sentimentos,
os braços para abraçar
e uma esperança a renascer
ainda ténue e difusa
que a união faz a força,
e a força é luz, é amor, é paz
se cada um for capaz
de descobrir o caminho
sem cair na desilusão.
Renasce um mundo Novo
quando nos dermos as mãos,
sem raça, credo, ou ideais
e na pessoa que passa
pudermos ver um irmão.

CHORO

Choro lágrimas de raiva
ao olhar o meu País.
Tenho dúvidas que saiba
viver sem dobrar a cerviz.


Em ciclos como as sezões,
com o poder que o povo tem
sufraga nas eleições
os senhores que, com desdém,


filhos pródigos a contracto,
vindos de outras paragens,
cumprem o desiderato
de obrigar à vassalagem


o País, que enganado,
por promessas de felicidade
acreditou, entusiasmado,
e recebeu ...austeridade.


Agora com a carestia
e a enriquecer usurários
as nossas mais-valias
vão pagar os honorários.


Medidas endureceram
o nosso viver diário,
os ânimos esmoreceram
com o corte dos salários.


E se, humildes, pedimos
no cinto um furo a menos
é muito o que exigimos
dizem os filhos do Demo.


E o medo já se sente
no Povo, quem o diria.
Calam-se as vozes da gente
que vivia em Democracia.

OS BUROCRATAS

Os governantes que temos
e os senhores dos dinheiros
desta nova geração.
com um ar de seriedade
e sempre no mesmo tom,
afirmam ser verdadeiros,
mas a verdade de ontem
hoje, por necessidade,
não vem vestida de igual.
Ou mudou o paradígma,
ou inventam um buraco
nas contas já mais que vistas
para justificar estratégias
que têm que ser revistas.
São verdadeiros artistas!
Com um denso vocabulário
mostram a sua sapiência:
é dos bancos a resiliência,
da economia a alavancagem,
da medida e do discurso
dizem que são assertivos,
E todos falam assim
como se fossem um eco.
É preciso um decionário
e uma imensa coragem
para ver um noticiário.
Para mim é um inigma
que académicos bem vistos
com catedras no estrangeiro
venham cá perder dinheiro
só para serem ministros.
Esta nova geração
dos chamados “jovens turcos”,
modelada nos países
de tendências liberais,
é uma geração sem raízes.
São predadores, canibais.
O dinheiro é o seu Deus,
a economia a doutrina,
as pessoas e as vontades,
não valem nada no lucro,
são activos ou excedentes,
na soma e subtração.
Os governantes que temos,
desta nova geração
com seu ar de seriedade
e sempre no mesmo tom,
são gélidos burocratas
sem experiência, nem dom
para nos salvar o País
sem enterrar a Sociedade.

MIGALHAS

Migalhas, no tempo antigo,
é o que sobrava do festim
e dava-se aos esfomeados
para, que agradecidos,
matassem a fome de dias,
se aplacassem as fúrias
e vissem os filhos a comer pão
que os bolsos não tinham
para satisfazer as necessidades.
Porque os senhores, satisfeitos e anafados
faziam a caridade com os restos que lhes sobrava.
Aplacava as consciências,
mantinha o povo agradecido,
controlado e receptivo
aos seus esbanjamentos.
Não dignificava ninguém!
Nem quem dava, que eram sobras,
nem quem recebia, que era esmola.
Incapaciadade de ser gente!
Isso era no antigamente.
Hoje a esmola volta a estar
no dia a dia das gentes.
Migalhas do orçamento,
almofada das consciências
de quem acha que o povo
é diferente das elites,.
Migalhas para comprar
o sossego dos governos
para que o povo enganado
não combata pelo que é seu.
E as gentes comprometidas
por uma migalha de seu
baixa os braços e aplaude,
e, enganado outra vez,
dá o seu aval de direito
a quem as massacra, as avilta,
na sua substância de ser GENTE!!

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

OUTUBRO QUENTE



A brisa brinca com as folhas
num murmúrio de dança de noivado.
O Verão está esgotado.
Mas as buganvílias explodem
de fogo e esperança
num manto, espreguiçando-se
pela parede e pelo telhado.
Ao longe o som cavado
do mar revolto e violento.
Um arvéola saltita
à procura de sustento,
prateada, solitária e leve,
intranquila e breve
na quietude do momento.
O parar do pensamento!
O colher da quietude,
comunhão de terra e céu
num segundo que é meu.
Neste Outubro colho a paz,
sem pensar no que o Inverno traz.
Outubro soalheiro e quente
que, como diziam os antigos,
para nós, traz o Diabo no ventre!

terça-feira, 6 de setembro de 2011

O MEU PAÌS

Sento-me na minha varanda a fumar um cigarro. O meu sol de Setembro, cálido, tem brilhos de calmaria nas árvores da rua. Os rebentos das gardénias estão amarelecidos das temperaturas de Agosto e folhas queimadas cobrem as hastes das sardinheiras, onde algumas flores resistentes ainda lutam com a falta de água e o sofrimento de oito dias de abandono.O regresso de férias! O regresso ao meu chão depois da viagem a conhecer outras vidas, outras terras. Uma Europa, velha senhora nas angústias de uma crise que torna as pessoas piores, distantes, o turismo masssivo e mal cuidado, o arrastar da nossa condição de latinos pelos caminhos xenófobos de países onde a luta pela vida é o denominador comum, sem sol, sem solidariedade, sem alma.
Fumo o meu cigarro ao sol do sul, reencontrando a calma burguesa do saber estar latino, das temperaturas amenas,do sorriso do empregado que me serve o café, do vinho espesso e qwuente que me dá aquela pequena tontura de calmaria e plenitude e não a vertigem da altitude onde se sente o bater ritmado das artérias e o sangue a picar nas veias.
Não consigo ainda esvasiar os meus acordares da sensação de permanência um metro acima do meu corpo, numa atmosfera rarefeita, embriagada de verde, lençois de erva aninhada entre as árvores, torrentes de água esverdinhada a descer encrespadas das montanhas, montanhas que escondem o sol, furam as núvens que desabam em trovoadas ao entardecer, os deuses dos cumes zangados a zurzir-nos de chuvadas repentinas.
Deliciei-me ao almoço com um entrecosto no forno que faria as delícias dos paladares habituados aos molhos e ao chucrute.
Fumo o meu cigarro na varanda ao sol de Setembro, cálido, que trás sabor a mar e dou graças por viver em Portugal!

quarta-feira, 8 de junho de 2011

DIA DA POESIA

Porque hoje está sol
e é o dia da Poesia,
comungo das palavras a magia
reinvento a mocidade
num mundo sem idade.
Construo castelos de espuma
vogando o mar numa escuna.
Desenho uma dança velha,
a dança dos resistentes
nos ventos do ódio e poder
que sopram sempre, insistentes,
a travar a liberdade.
E para além do arco-íris
o Amor é um gnomo
triste e desamparado
numa floresta de acácias.


Helena Guimarães

Mimosas

Ouro descendo em manto pelas serras,
ladeando caminhos e veredas,
frescura de tardia Primavera.
Maio.
Maio florido do meu País,
das conquistas, do trabalho,
Maio da Mãe da terra e do céu,
das maias e tojos em flor.
Meu País, vestido de ouro,
de joelhos.
Uma vez mais de mão estendida,
cabeça inclinada de vencido,
por nunca ter entendido
que o caminho se faz plano.
Todos são precisos. É um engano
ser cada um melhor que o vizinho.
A cobiça, aquele toque nacional,
armadilha é, vício daninho.
Dos nossos dizemos mal.
Se não são vesgos, são coxos,
são despóticos ou frouxos.
São indignos de mandar!
Mas àqueles que nos pisam,
que vêm doutras paragens,
cobertos de vãs roupagens,
recebemos com abraços
sorrindo como devassos.
E vendemos por dois reais
a alma, a vida e os quintais.
Meu País de Maio e rosas
vestido de ouro das mimosas,
perdido e ajoelhado,
emprenha teu solo de semente,
reconquista o mar que te pertence,
comunga os teus prados, o teu sangue,
e não voltarás a ser mandado!

SEARAS E PAPOILAS

SEARAS E PAPOILAS -1

Era uma vez….
Assim começam as histórias
que nos contam as glórias
dos heróis, ou os devaneios
da nossa imaginação.
Era uma vez,
(A história começa assim)
uma borboleta de asas brancas
tão finas como cambraia
que em voo saltitante,
passeava radiante
por um belo campo de trigo.
Pareceu-lhe um bom abrigo!
A seara ondeava calma
até além, ao horizonte,
cabelos de ouro fino
penteados pela brisa.
Mar doirado que desliza
em murmúrio ao sol de Verão.
Aqui e ali, pontos escarlate,
as papoilas abrem as corolas,
húmidas, macias de cetim.
-Hei, borboleta, diz a espiga,
pousa em mim tua candura
vem partilhar minha doçura
eu e as minhas companheiras
somos úteros de pão.
Vem degustar o meu grão
que dá a vida para ser sustento.
Em gargalhada sonora
responde atrevida a papoila
torcendo os estames amarelos,
a mostrar os seus carpelos.
- Tu és pálida, sem encantos,
teu perfume é a farinha
tens barbas que magoam asas.
Eu sou húmida e macia
e vermelha de paixão.
- Mas és papoila dormideira!
Na tua cor escarlate,
no néctar maligno e doce
dormita a mão da Ceifeira.
Virou-lhe a papoila a corola,
na sua haste elegante
mostrando-lhe o seu melindre.
- Borboleta, és tão bela,
pareces um anjo voando
dá-me o teu beijo de amor
dar-te-ei a minha cor
conhecerás a paixão
e ao calor deste sol
viveremos nos amando.

(Ninguém lhe falara assim!)
mirou a corola de cetim,
pousou cansada e incauta
sorveu o néctar num beijo,
saciou o seu desejo.
Num adejar lento e breve
uniu as asas, morreu.
Naquela loira seara,
aquele ponto escarlate
ficou manchado de neve.
Uma incauta mariposa
morreu de amor e desejo
apenas, e só, por um beijo!


Helena Guimarães

terça-feira, 10 de maio de 2011

A FOTOGRAFIA

A FOTOGRAFIA

Aquela fotografia a sépia
que guardo no álbum de família
mostra-te na tua juventude
quando o nosso amor floriu
e percorreu um trilho de inocência
se abrasou em noites de luar
e permaneceu no infinito da memória.
Vestias de branco ,
com a barba escura a emoldurar-te o rosto,
os olhos baixos, numa expressão calma
tão longe da paixão que explodia do teu corpo.
As entradas largas do cabelo mostram uma testa larga
de uma inteligência que nunca te preocupaste em utilizar.
A vida para ti era o infinito!
O teu abraço uma eternidade de ternura.
Perdemo-nos na contenda dos tempos,
desperdiçamos os caminhos
que nunca voltamos a encontrar.
A felicidade que negamos nos preconceitos.
O tempo que partilhamos na ausência
que ficaram na memória dos dias.
A presença etérea
que corporiza a saudade
do que poderia ser.

MIMOSAS

Ouro descendo em manto pelas serras,
ladeando caminhos e veredas,
frescura de tardia Primavera.
Maio.
Maio florido do meu País,
das conquistas, do trabalho,
Maio da Mãe da terra e do céu,
das maias e tojos em flor.
Meu País, vestido de ouro,
de joelhos.
Uma vez mais de mão estendida,
cabeça inclinada de vencido,
por nunca ter entendido
que o caminho se faz plano.
Todos são precisos. É um engano
ser cada um melhor que o vizinho.
A cobiça, aquele toque nacional,
armadilha é, vício daninho.
Dos nossos dizemos mal.
Se não são vesgos, são coxos,
são despóticos ou frouxos.
São indignos de mandar!
Mas àqueles que nos pisam,
que vêm doutras paragens,
cobertos de vãs roupagens,
recebemos com abraços
sorrindo como devassos.
E vendemos por dois reais
a alma, a vida e os quintais.
Meu País de Maio e rosas
vestido de ouro das mimosas,
perdido e ajoelhado,
emprenha teu solo de semente,
reconquista o mar que te pertence,
comunga os teus prados, o teu sangue,
e não voltarás a ser mandado!

Dia da Poesia

Porque hoje está sol
e é o dia da Poesia,
comungo das palavras a magia
reinvento a mocidade
num mundo sem idade.
Construo castelos de espuma
vogando o mar numa escuna.
Desenho uma dança velha,
a dança dos resistentes
nos ventos do ódio e poder
que sopram sempre, insistentes,
a travar a liberdade.
E para além do arco-íris
o Amor é um gnomo
triste e desamparado
numa floresta de acácias.


Helena Guimarães

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

ZECA

a utopia morreu.
De pouco valeu a tua força,
aquela que cantavas à guitarra
que nos enchia a alma,
despertava a essência
de sermos gente
em luta pela marca
da portugalidade.
e pela Liberdade!


Zeca,
a utopia morreu.
Vestiram-na de globalização
de Europa, de aculturação.
Hoje, o povo orgulhoso
que conquistou os mares,
conta os tostões que lhe consentem,
guerreia-se na inveja milenária,
e pensa que governa.
Encharcado de pareceres doutos
governa a soldo de senhores outros
que de joelhos o obrigam
a não ter alma, nem brio, nem nacionalidade.


Zeca,
a utopia morreu.
Sobreviveu-lhe o Euro, a estatística,
as perspectivas económicas,
os nossos irmãos rebentados de trabalho
o ordenado que não chega para os bancos,
os filhos criados sem pais,
a mendicidade, a tristeza, a depressão,
os lares sem pão,
e a Europa, essa Europa polvo
a comer os seus filhos
numa hegemonia germânica
que não venceu pelas armas
e amarfanhou pelo soldo.

Zeca,
a utopia morreu.
Já não temos país,
somos província
de uma Europa subjugada.
Somos menos do que nada.
Compraram-nos a alma
tiraram-nos a vontade,
esconderam-nos a verdade,
enganaram-nos com a opulência
treinaram-nos os filhos na obediência
apoiaram a mediocridade
E gravaram-nos na testa um epitáfio:
“Aqui jaz um homem que vendeu a sua liberdade”

UM NOVEMBRO QUALQUER

Era Novembro!
Não um Novembro macio
de alegria no olhar
sol cálido a convidar
aos caminhos interiores.
Nem um Novembro
com a chuva miudinha,
e fumo de castanhas assadas
nas esquinas da cidade.
Não havia claridade!
Era um Novembro agreste
de mar encapelado,
e ventos gélidos
que vergavam os ciprestes
dos cemitérios.
Um Novembro de mistérios!
Nuvens negras
no céu e na alma.
Chuva e lágrimas
nos rostos fechados
flores de saudade
olhos sem luz,
tristeza que cansa.
Não havia Esperança!
Não era um Novembro qualquer.
Era um Novembro
de vidas em marcha atrás
no País desencantado
perdido e esgotado
de uma luta magoada
com armas tão desiguais.
Era um Novembro de sombras
a adivinhar a desgraça.
David contra Golias
sem a funda redentora,
sem a pedra que derruba,
sem o saber e a vontade
de caminhar o caminho
a viver cada momento.
Não era um Novembro qualquer.
Era o Novembro
do nosso descontentamento!!

OS PROFETAS DA DESGRAÇA

Fazem-me calafrios!
Uns já são entradotes
a boca torcida em esgares,
os olhos, velhos, miúdos
não olham para ninguém.
Foram sempre medíocres.
Folheiam estudos sem fim
com mapas e estatísticas
tiradas da Internet.
Não conhecem o País!
E quem sabe é o que diz
que não saem de Lisboa,
levam uma vida boa
junto à mesa do poder
de onde comem as migalhas.
Os outros são galos novos
cheios de graus e basófias
de prosápia e de pujança.
Vêm de outras paragens
vassalos de outras linhagens
escravos doutros poderes.
São os profetas de agora.
São os velhos do Restelo
que esventram, agoirentos,
sempre de língua afiada
o que dia a dia se faz,
como cachorros danados
em festim de carne e sangue.
Move-os o ódio e o desdém
cobre-os o véu da ganância.
Perderam a elegância!
Sempre com audiência
vão catequizando o povo
que conquistou a liberdade
incutindo-lhe o medo,
sangrando-lhe a vontade.
Fazem-no acreditar
que só dizem a verdade.
Só eles, iluminados,
são detentores do segredo
de conduzir o País,
agora a soçobrar,
a uma sublime ventura,
à enorme felicidade
dos tempos de Salazar.

A FISGA

Eu tinha uma fisga
quando era pequena.
Fez-ma o meu irmão,
numa tarde amena
com um ramo em forquilha
de um marmeleiro
que ensombrava o tanque.
Atou-lhe umas tiras de câmara-de-ar
com fio de norte
e pôs-lhe um bocado de couro por fim.
Nem cabia em mim
tal era a alegria e a minha sorte.
Enrolava a borracha à volta do pau
e metia-a na cinta
dos meus calções curtos,
como os garotos
que corriam descalços .
Nunca matou nada com aquela fisga!
Nem pomba, nem coelho ou passarinho
nem sequer uma sardonisca.
Mas era a minha fisga!
Que me fazia igual aos rapazes,
que ganhava jogos
“de quem atira mais longe”,
que me fazia fugir
dos bordados
e do pano do pó.
A minha fisga fazia de mim
aquilo que eu queria ser.