terça-feira, 10 de maio de 2011

A FOTOGRAFIA

A FOTOGRAFIA

Aquela fotografia a sépia
que guardo no álbum de família
mostra-te na tua juventude
quando o nosso amor floriu
e percorreu um trilho de inocência
se abrasou em noites de luar
e permaneceu no infinito da memória.
Vestias de branco ,
com a barba escura a emoldurar-te o rosto,
os olhos baixos, numa expressão calma
tão longe da paixão que explodia do teu corpo.
As entradas largas do cabelo mostram uma testa larga
de uma inteligência que nunca te preocupaste em utilizar.
A vida para ti era o infinito!
O teu abraço uma eternidade de ternura.
Perdemo-nos na contenda dos tempos,
desperdiçamos os caminhos
que nunca voltamos a encontrar.
A felicidade que negamos nos preconceitos.
O tempo que partilhamos na ausência
que ficaram na memória dos dias.
A presença etérea
que corporiza a saudade
do que poderia ser.

MIMOSAS

Ouro descendo em manto pelas serras,
ladeando caminhos e veredas,
frescura de tardia Primavera.
Maio.
Maio florido do meu País,
das conquistas, do trabalho,
Maio da Mãe da terra e do céu,
das maias e tojos em flor.
Meu País, vestido de ouro,
de joelhos.
Uma vez mais de mão estendida,
cabeça inclinada de vencido,
por nunca ter entendido
que o caminho se faz plano.
Todos são precisos. É um engano
ser cada um melhor que o vizinho.
A cobiça, aquele toque nacional,
armadilha é, vício daninho.
Dos nossos dizemos mal.
Se não são vesgos, são coxos,
são despóticos ou frouxos.
São indignos de mandar!
Mas àqueles que nos pisam,
que vêm doutras paragens,
cobertos de vãs roupagens,
recebemos com abraços
sorrindo como devassos.
E vendemos por dois reais
a alma, a vida e os quintais.
Meu País de Maio e rosas
vestido de ouro das mimosas,
perdido e ajoelhado,
emprenha teu solo de semente,
reconquista o mar que te pertence,
comunga os teus prados, o teu sangue,
e não voltarás a ser mandado!

Dia da Poesia

Porque hoje está sol
e é o dia da Poesia,
comungo das palavras a magia
reinvento a mocidade
num mundo sem idade.
Construo castelos de espuma
vogando o mar numa escuna.
Desenho uma dança velha,
a dança dos resistentes
nos ventos do ódio e poder
que sopram sempre, insistentes,
a travar a liberdade.
E para além do arco-íris
o Amor é um gnomo
triste e desamparado
numa floresta de acácias.


Helena Guimarães