quarta-feira, 8 de junho de 2011

DIA DA POESIA

Porque hoje está sol
e é o dia da Poesia,
comungo das palavras a magia
reinvento a mocidade
num mundo sem idade.
Construo castelos de espuma
vogando o mar numa escuna.
Desenho uma dança velha,
a dança dos resistentes
nos ventos do ódio e poder
que sopram sempre, insistentes,
a travar a liberdade.
E para além do arco-íris
o Amor é um gnomo
triste e desamparado
numa floresta de acácias.


Helena Guimarães

Mimosas

Ouro descendo em manto pelas serras,
ladeando caminhos e veredas,
frescura de tardia Primavera.
Maio.
Maio florido do meu País,
das conquistas, do trabalho,
Maio da Mãe da terra e do céu,
das maias e tojos em flor.
Meu País, vestido de ouro,
de joelhos.
Uma vez mais de mão estendida,
cabeça inclinada de vencido,
por nunca ter entendido
que o caminho se faz plano.
Todos são precisos. É um engano
ser cada um melhor que o vizinho.
A cobiça, aquele toque nacional,
armadilha é, vício daninho.
Dos nossos dizemos mal.
Se não são vesgos, são coxos,
são despóticos ou frouxos.
São indignos de mandar!
Mas àqueles que nos pisam,
que vêm doutras paragens,
cobertos de vãs roupagens,
recebemos com abraços
sorrindo como devassos.
E vendemos por dois reais
a alma, a vida e os quintais.
Meu País de Maio e rosas
vestido de ouro das mimosas,
perdido e ajoelhado,
emprenha teu solo de semente,
reconquista o mar que te pertence,
comunga os teus prados, o teu sangue,
e não voltarás a ser mandado!

SEARAS E PAPOILAS

SEARAS E PAPOILAS -1

Era uma vez….
Assim começam as histórias
que nos contam as glórias
dos heróis, ou os devaneios
da nossa imaginação.
Era uma vez,
(A história começa assim)
uma borboleta de asas brancas
tão finas como cambraia
que em voo saltitante,
passeava radiante
por um belo campo de trigo.
Pareceu-lhe um bom abrigo!
A seara ondeava calma
até além, ao horizonte,
cabelos de ouro fino
penteados pela brisa.
Mar doirado que desliza
em murmúrio ao sol de Verão.
Aqui e ali, pontos escarlate,
as papoilas abrem as corolas,
húmidas, macias de cetim.
-Hei, borboleta, diz a espiga,
pousa em mim tua candura
vem partilhar minha doçura
eu e as minhas companheiras
somos úteros de pão.
Vem degustar o meu grão
que dá a vida para ser sustento.
Em gargalhada sonora
responde atrevida a papoila
torcendo os estames amarelos,
a mostrar os seus carpelos.
- Tu és pálida, sem encantos,
teu perfume é a farinha
tens barbas que magoam asas.
Eu sou húmida e macia
e vermelha de paixão.
- Mas és papoila dormideira!
Na tua cor escarlate,
no néctar maligno e doce
dormita a mão da Ceifeira.
Virou-lhe a papoila a corola,
na sua haste elegante
mostrando-lhe o seu melindre.
- Borboleta, és tão bela,
pareces um anjo voando
dá-me o teu beijo de amor
dar-te-ei a minha cor
conhecerás a paixão
e ao calor deste sol
viveremos nos amando.

(Ninguém lhe falara assim!)
mirou a corola de cetim,
pousou cansada e incauta
sorveu o néctar num beijo,
saciou o seu desejo.
Num adejar lento e breve
uniu as asas, morreu.
Naquela loira seara,
aquele ponto escarlate
ficou manchado de neve.
Uma incauta mariposa
morreu de amor e desejo
apenas, e só, por um beijo!


Helena Guimarães