Eu tinha uma fisga
quando era pequena.
Fez-ma o meu irmão,
numa tarde amena
com um ramo em forquilha
de um marmeleiro
que ensombrava o tanque.
Atou-lhe umas tiras de câmara-de-ar
com fio de norte
e pôs-lhe um bocado de couro por fim.
Nem cabia em mim
tal era a alegria e a minha sorte.
Enrolava a borracha à volta do pau
e metia-a na cinta
dos meus calções curtos,
como os garotos
que corriam descalços .
Nunca matou nada com aquela fisga!
Nem pomba, nem coelho ou passarinho
nem sequer uma sardonisca.
Mas era a minha fisga!
Que me fazia igual aos rapazes,
que ganhava jogos
“de quem atira mais longe”,
que me fazia fugir
dos bordados
e do pano do pó.
A minha fisga fazia de mim
aquilo que eu queria ser.
Há 1 mês
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