domingo, 8 de novembro de 2009

OS TEUS SETENTA ANOS

Setenta anos. A vida.
Sinfonia inacabada
escrita a carne e a sangue.
Notas que enlaçam
Vibram,
acarinham
Sorriem doces na afeição,
Cobrem de ouro as palavras
Queimam nos fulgores da paixão.
Notas que sonham
Que dançam,
Que beijam
abraçam
levantam quem ajoelhou.
Acendem a luz da alegria
Pintam o céu de arco-íris.
Desenham hinos no vento
Cobrem-nos de nostalgia.
Os teus setenta anos. A vida.
Uma bela sinfonia.

O FUNERAL

Vejo passar o funeral.
O segundo carro levava duas bandeiras na frente
a marcar a sua diferença social,
mas somente quatro carros o seguiam.
Pergunto-me o que será morrer em Agosto
quando toda a gente está de férias.
É um morrer sozinho
quase anónimo,
sem os amigos que levamos tanto tempo a
conquistar,
sem a família que está longe.
Um morrer contra a maré,
a causar constrangimento.
Uma negação da vida e do social
de que somos tão avaros.
Que lutas travamos por um lugar!
Será que o extinto está ali, ou algures
deitado na praia,
ou a beber um drink na esplanada
ao pé dos seus na negação da morte.
Não gostava de morrer em Agosto!
É a suprema solidão!

DORMES A MEU LADO

Calmo dormes a meu lado.
Sinto-te a respiração cadenciada
do sono induzido pelo comprimido
que te afasta os fantasmas
faz esquecer o dia-a-dia.
Aquela vida que queres
desenhada por ti
e que sempre salta do desenho
e traça montanhas e vales,
redemoinhos
caminhos sinuosos,
sem obedecer às regras
que estavas habituado a conhecer.
Um mapa que já te cansa ler.
Faz-te retesar os nervos.
Dormes a meu lado
com um respirar cadenciado
a esquecer o dia-a-dia
deste mundo que já não é.