sexta-feira, 28 de novembro de 2008

É sempre Natal no Peito!

As luzes traçam caminhos no asfalto molhado
e saltam-me para os sapatos quando as piso.
O frio húmido enrola-me o corpo
num abraço de espectro.
Na esquina uma mulher semi-nua
convida o último cliente,
ignorando que a sua miséria faz parte
do manto subtil da minha segurança.
O homem do saxofone embrulha os “blues”
nos jingles de Natal que pretendem aquecer a rua.
É Natal!
O Menino Deus, mais uma vez,
nasce no seu berço de palha,
desprezado e perseguido,
para morrer traído na Primavera.
Menino Deus ultrapassado pelos Pais-Natal
presos aos edifícios por cordas invisíveis;
esquecido no fervilhar das compras,
e das viagens aos paraísos tropicais;
desmembrado nos homens-bomba,
piões mártires de uma utopia,
a sonhar com um harém de virgens;
molhado nas faces dos refugiados
das eternas guerras dos petrodolares.
É Natal?
No mundo ávido e mesquinho não há Natal.
Mas na pressa da criança que rasga o embrulho
para encontrar o sonho,
sob o olhar doce dos pais que a protegem;
na partilha dos amantes que se desnudam de si
[para ser o outro;
no abraço do amigo que destrói a solidão;
no reencontro que nos humedece os olhos,
há Natal!
Quando comungamos ternura
é sempre Natal no peito!

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