sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Já se malhou a colheita



O grão amadureceu faz tempo
sugou a terra, bebeu o sol
verdejou manhãs, dourou-se de poentes.
Roubaram-lhe o casulo, cortaram-lhe o cordão.
Minúscula vida dobrada em si mesmo
na pausa morna do fim do Verão,
solitário entre mil, mais um grão
conduzido, comandado por mãos impessoais.
Será um dia pão ou vida?
Imolado, se for pão,
abrirá sorrisos de prazer nos rostos
da humanidade e calará
o choro de fome das crianças.
Poderá até, sublime
e grandiosa morte, ser
o Corpo e Sangue do Filho
crucificado do Criador do Mundo.
Mas quer ser vida. De novo
nascer folhas, aquecer ao sol,
sentir o fresco do vento e da chuva.
cumprir a sua fatalidade de semente
multiplicando-se para além do tempo.

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