segunda-feira, 6 de maio de 2013

                                  CONTIGO À LAREIRA

 

 

Vem.

Senta no meu colo

aqui junto da lareira.

Quero conduzir-te

no descobrir das coisas simples,

essas coisas sem idade

onde, sem procura nem canseira,

está escondida a felicidade.

Vê,

lá fora o vento verga as árvores

e despenteia os pássaros.

O frio adormeceu as roseiras

e as pionias do jardim.

Existe uma gélida claridade

que abraça os ramos do jasmim.

Além, um bando de estorninhos,

manto negro a cortar os céus,

desce a procurar o gão

e as alvéolas vão atrás do arado

que rasga a terra a semear o pão.

Escuta

o chiar do carro puxado pelos bois

que se arrasta pela ladeira acima.

 

Em casa o calor nos une,

neste devir sem tempo

que cheira a pão fresco

e a café ao lume.

A gata enrosca o sono

num pedaço de tapete

com um filhote a dormir em cima

e o vaso da begónia

tem um pouco de verdete.

Na lareira saltam as faúlhas

e do cesto espreita um novelo

espetado por um par de agulhas.

Em cima da mesa,

porque alguém o trouxe,

está, ao pé das camélias,

um prato de arroz-doce.

Repara!

O sorriso escorre das conversas,

dos olhos a sinceridade,

na linguagem dos corpos

a cumplicidade

e o carinho veste os pequenos gestos

que adoça de pertença o dia a dia.

Sabes,

nesta beleza das pequenas coisas

não acontece solidão

nem tem lugar a nostalgia.

 

Helena Guimarães

 

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