quarta-feira, 16 de maio de 2012

A Prenda


 


Uma prenda eu encontrei
num armário de nogueira.
Tinham-ma oferecido há anos
numa noite brasileira
embrulhada de Esperança
com uma fita dourada
num laço de requinte antigo.
Desfiz a prenda com cuidado
e uma curiosidade lasciva.
Era uma caixa pequena
de cartão simples e grosso
com uma tampa lavrada.
Abri. Rosas de toucar
enchiam-na qual alvorada.
Uma menina, olhos de mar
cabelos como searas
sorriso a convidar
e um vestido de organdi,
tinha outra caixa na mão
rúbida, da cor da paixão.
Dentro estavam os amores
e o fogo da juventude,
ainda alguns desamores,
sonhos para realizar,
a procura de destinos
e ainda dois meninos
com uns sorrisos traquinas
seguravam outra caixa
nas suas mãos pequeninas.
Esta era de ouro puro
pesada de emoções.
Crianças livres corriam
e cresciam como flores,
mãos cuidavam com desvelo,
curavam todas as dores,
sorrisos a multiplicar-se,
lágrimas a lavar traições,
livros a contar histórias
de umas tantas vitórias
e algumas desilusões.



Num recanto de jardim
do tempo, ao sol poente,
tinha crescido um jasmim
com seu perfume envolvente
e no ramo de um arbusto
nascia um botão rosado,
doce na sua inocência,
ainda mal desabrochado.
Estava tudo envolvido
num véu de uma fina trama,
ternura e amor enlaçados
protegiam este drama
do mundo desconhecido.
Descobri um fundo falso
com a palavra FUTURO.
Reflectindo, parei.
Esta prenda da uma vida
que recebi faz já há anos
numa noite de Janeiro
fui-a abrindo devagar
com a coragem de amar
esquecendo os desenganos
desde esse dia primeiro.
O futuro a Deus pertence,
não o questionarei
E com gestos delicados
acarinhando a saudade
a minha prenda guardei.





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